Posted on domingo, setembro 23, 2012 · 1 Comment
Só pra deixar todo mundo informado, não sei se lembram da época remota quando comecei a escrever e eu postava um tipo de web novela láááá no orkut. Só pra sentir o drama da era paleolítica da qual estou me referindo. O nome dessa web novela era O Mundo dos Mortos e o nome da saga era Borboletas Negras. Só pra constar, Borboletas Negras NÃO EXISTE nessa versão 1.0 de O Mundo dos Mortos. O título do livro será preservado. No entanto, alguns itens e personagens serão extintos e guardados lá no fundo do baú. Ou do HD, nessa era digital que vivemos.
De qualquer modo, estou reescrevendo a saga inteira e eis o novo prólogo do primeiro livro. O prólogo da web novela tinha, assim, 3 linhas. Era simples e direto. Esse é mais explicativo e precede uma Nota da Autora bem interessante. Por enquanto vou postar somente o prólogo, pra todos terem uma noção de como está ficando. Eu particularmente gosto infinitamente mais da versão nova porque não tem muita lenga lenga e a Belinda está mais do jeito dela. A personalidade do Mikael ficou mais marcante e mais do jeito dele nesse primeiro livro. Enfim, está aí o prólogo. Enjoy (:
[...]
PRÓLOGO
APÓS o fim do mundo, várias coisas mudaram. Você pode rir da colocação dessa
frase, mas não é tão engraçado para quem ficou, para quem continua sobrevivendo,
lutando por sua vida dia após dia depois do armagedom.
Nós somos poucos. De novo,
você pode estar rindo e, de novo, eu digo que não é engraçado. É difícil
encontrar alguém vivo nas atuais condições do mundo, meses de calor intenso e
então a ampulheta vira, contando os dias até o fim do inverno, o fim da neve.
Logo aqui, que nunca nevou. Não que eu me lembre disso. É difícil se lembrar de
alguma coisa antes da Última Guerra, aquela que culminou de uma vez por todas
na destruição da humanidade.
Explosões. Gritos. Choros.
Desespero – é essa a palavra que
descreve bem o cenário daquele dia. Não havia uma pessoa que não estivesse
desesperada. Você olhava em seus rostos, o rosto de cada um que assistia as
armas acabarem conosco, os homens e mulheres perderem suas vidas, tombando
inertes como se fossem sacos cheios de areia. As crianças que choravam sem
saber o que fazer sem seus pais. E então as crianças que também eram
assassinadas cegamente por pessoas que já tinham passado do estado inicial da
loucura. Você via em seus semblantes que ninguém sabia como as coisas tinham
chegado àquele ponto.
Eu tenho uma teoria, mas
você não quer ouvi-la. Ninguém nunca quer. Ela é triste e pessimista, mas é o
mais próximo do real que consegui chegar.
Terceira Guerra Mundial.
Um novo Hitler para nossa nação. Foi o estopim – o primeiro passo para a
decadência de hoje.
Se você olhar para fora da
janela hoje e ver apenas um grande deserto arenoso com construções demolidas
espalhadas aleatoriamente, a culpa é do primeiro que disse: “Precisamos dar um
jeito neles”. Foi assim que tudo começou. Primeiro as discussões diplomáticas,
aparentemente cheias de etiqueta. Aquilo era uma enorme faixada para cobrir
seus verdadeiros motivos. No fundo, eles não queriam uma solução – eles queriam
a guerra. A Última Guerra. No fim, ninguém mais sabia qual tinha sido o começo.
E a minha teoria, não,
você não vai querer ouvi-la. Ela não culpa Deus, nem sequer o Diabo. Ela não
culpa a natureza ou os efeitos climáticos. A minha teoria culpa os homens e
somente eles.
Ah, e claro, a minha mãe.
Vi as fitas e vi seus
discursos moralistas. Era muita hipocrisia para uma pessoa apenas. A ética era
seu assunto preferido, mas em seus laboratórios, a principal pesquisa era
humana. Experiências humanas. E esse foi um dos principais fatores que
começaram com a Terceira Guerra. Mas ao invés de parar e dar um fim em tudo
quando as coisas começaram a vazar, minha mãe simplesmente recrutou mais
mulheres para suas experiências e mais cientistas passaram a ficar do lado
dela.
Porque ela dizia que
construiria um novo mundo muito melhor do que aquele no qual eles viviam. Pelo
que sei, as fotos que vi e os vídeos que assisti, não há como o antigo mundo
ser pior do que esse de agora. As alegações de minha mãe eram claras e
específicas: aqueles bebês mudariam o mundo.
E mudaram – tenha certeza
disso.
Mas não foi para melhor.
Na verdade, toda a
pesquisa dela continha um erro, um único erro que fez as coisas todas
desandarem de uma maneira magnânima e alcançou proporções mundiais. É claro que
tudo começou no laboratório dela. Uma pequena sala no subterrâneo de algum
lugar escondido sob São Paulo. Ninguém sabe onde é e até hoje ninguém tentou
encontrar o lugar. Porque lá é o berço, o ninho deles, e ninguém, absolutamente ninguém quer ver um deles nascendo, forte, cheio de vida.
É por causa disso que não
consigo gostar da minha mãe. Você pode chamar de insensibilidade, mas eu
mandarei você para o inferno descobrir o que é ser sensível. Você não sabe o
que ela fez – você nem faz ideia. Porque, se fizesse, você me mataria e sorriria
aliviado ao fazer isso.
Definitivamente.
Nasci numa época
conturbada. Eu nasci no ano em que começaram as guerras, um pouco depois das
discussões. Depois disso, tiros, bombas e tudo o mais que você possa imaginar.
As experiências dando errado uma após outra. Os bebês nascendo. Canções de
ninar foram esquecidas e deram espaço para o absoluto silêncio da noite. Bebês
não podiam chorar, do contrário denunciariam o esconderijo de seus pais e, com
isso, muitas pessoas morreriam na mão deles,
na boca deles.
Não foi uma boa época para
nascer. E, se você me pedir para ser sincera, eu ainda diria que não são bons
tempos para um bebê vir ao mundo. Porque o futuro parou de estar nas mãos das
crianças.
Agora ele está nas mãos deles.
Zumbis.
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O Mundo dos Mortos
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Heey (:
Já te apresentei lá no blog.
Beeeijos!