Qual seu mundo?



Essa pergunta pode parecer um pouco estranha, mas você tem que entender que quando se trata de um livro de fantasia, essa é uma pergunta pra lá de plausível.

Uma das primeiras coisas a se decidir quando você começa uma história é justamente o local no qual ambientá-la. Sempre que começo uma nova história, esse é geralmente o primeiro dilema que aparece. Ok, essa história é sobre uma garota que prevê o futuro e é, na verdade, uma fada. Mas... onde ela vai morar? Temos que pensar em qual seria o melhor local para ambientar uma história desse gênero. Um mundo novo e mágico criado por você ou o nosso mundo mesmo, aquele que todo mundo já conhece e está familiarizado? Tudo vai depender do que você quer fazer com a sua história.

No exemplo que citei acima, decidi ambientar a história da Ailly Vanzuitta na Irlanda, adaptando com um pouquinho de um universo criado por mim. Por que eu fiz isso? Muito simples. Eu sempre achei que a Irlanda tem a melhor fonte de lendas relacionadas à magia, se você for pensar no que já existe. A Irlanda geralmente é associada com mágica e duendes, assim como a Romênia é associada com os vampiros. Então, quando escrevi O País do Vento, achei que não teria lugar melhor para ambientar uma história sobre fadas e duendes do que na Irlanda.

Mas Amanda, eu não quero escrever sobre um lugar que já existe! Quer o criar meu próprio mundo!

Se você pensou isso, então posso dizer que você vai ter trabalho pela  frente. Estamos todos cansados de ver por aí livros com universos próprios e pouco elaborados, por vezes muito semelhante ao mundo em que vivemos. Não estou julgando ou criticando, mas, na mim opinião, se você vai fazer um mundo para sua história, então deve aproveitar ao máximo o que ele tem pra te oferecer. 

Quando escrevi Anastácia, era exatamente isso que eu queria: um universo novo que fizesse jus à minha personagem e ao estilo de vida que imaginei para a história. Eu elaborei geografia, clima, crenças e culturas dos reinos e impérios que compunham esse universo. Até mesmo criei uma história geral para cada um deles, mesmo que isso seja apenas um plano de fundo para a história em si. São esses detalhes que fazem com que a sua história pareça mais verdadeira e consistente, diferente de apenas um monte de ideias escritas aleatoriamente no papel.

Crie o seu mundo antes de jogar personagens nele. Isso vai te ajudar a ter limites também, assim como as regras da magia, para que você não crie algo novo toda vez que sua personagem precisar. Defina exatamente o que as pessoas que vivem no seu mundo pensam e ao que estão acostumadas. Por exemplo, seus aldeões ficariam surpresos se vissem um mago fazendo coisas flutuarem ou estariam familiarizados com esse tipo de coisa? Ou ainda, seus aldeões ficariam estarrecidos se vissem uma mulher usando calças ou isso é algo comum? Você precisa desses detalhes para problematizar a sua história. 

Talvez vocês achem que eu esteja exagerando e talvez eu realmente esteja. Porém, por experiência própria, posso dizer que um enredo funciona muito melhor quando você cria um universo com detalhes desse tipo, deixando claro para você mesmo a forma como suas personagens devem se portar e agir. Decidir qual será o clima do seu universo também é algo importante, pois apesar de não ser extremamente relevante para a história, ele é importante quando você está descrevendo as cenas e dando detalhes sobre o que está acontecendo ao redor da personagem. 

Por exemplo, no universo do meu novo livro, A Princesa do Ar, nós temos a Província Elemental, composta por quatro reinos: Ar, Fogo, Água e Terra. Apesar de não falar muito sobre os outros reinos neste livro, eu tenho definida toda a climática e geografia de todos eles. No Reino do Ar, faz frio e neva o ano inteiro, enquanto no Reino do Fogo faz um calor infernal. Esse tipo de detalhe dá características próprias para o seu universo, além de ajudá-lo à exteriorizar aquilo que você imaginou para a sua história. Isso facilita o seu trabalho - ao invés de ir criando coisas à medida que escreve, você simplesmente deve adequar a sua história ao universo que você já criou e, tecnicamente, já existe. 

Outro exemplo disso é justamente o universo criado por Tolkien e por George Martin. São mundos muito elaborados para terem sido simplesmente criados à medida em que se ia escrevendo a história. Ainda, o mundo criado por Cassandra Clare, muito próximo ao nosso, mas em um plano diferente. Cassandra Clare criou o mundo dos Caçadores de Sombras em paralelo ao nosso mundo, com sua própria política e regras, e todos os seus livros são ambientados nesse universo, assim como os livros de Brandon Sanderson. Esses são exemplos conhecidos e que deram mais do que certo e certamente são exemplos a serem seguidos.

Eu sei que quando você tem uma nova ideia, fica desesperado para colocá-la logo no papel. Nada te impede de fazer isso, mas para ter uma história consistente e elaborada, você precisa colocar limites nela - antes ou depois de criá-la. Não estou dizendo para você não escrever o que gostaria - na verdade, você deve fazer isso. Porém, você precisa fazer isso de forma que faça sentido, de um jeito que tenha ligação com o roteiro que você criou e com o universo que você imaginou.

Depois disso, é só deixar suas personagens ganharam vida no seu mundo - ou no delas!

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