Nuvens de algodão

Um novo dia, um novo ano. Ela olhou para cima, para o céu. Fitou as nuvens e viu o sol. A luz brilhante que iluminava o mundo. Levou a mão aos olhos e os estreitou. Era como se tudo não passasse de uma sensação estranha martelando no seu peito. Uma angústia profunda que fazia seus olhos pinicarem. Ela não gostava de chorar. Geralmente, aquilo significava que as coisas estavam muito piores do que ela podia lidar e ela não gostava de se sentir daquela forma – fora de controle. Porém, não podia deixar de admitir para si mesma que aquilo tudo era muito mais do que conseguia suportar. A dor, a perda – tudo. A sua vontade era de simplesmente sumir, simplesmente, sem precisar dar nenhuma satisfação a quem quer que fosse. Despedidas são difíceis e ela não era uma garota que sabia lidar bem com elas. Odiava a saudade com toda a sua força e odiava ainda mais a sensação de perda que vinha acompanhada dela, a certeza de que jamais teria de volta aquilo que se foi. Ela cruzou os braços contra o peito e fechou seus olhos. O vento soprou seu cabelo para trás e ela não tinha consciência de como ficava linda daquela forma. Ela já não percebia aquelas coisas. Em sua mente, um único pensamento flutuava, rodopiava, ia, voltava e permanecia da mesma forma como havia surgido. A morte dele ainda a machucava e ainda a fazia sentir raiva. Por quê? Era uma pergunta difícil de ser respondida. Havia uma série de coisas que se podia dizer e que ainda assim ela não iria compreender. A verdade era que ela não queria aceitar o fato de que a vida podia se findar tão rápido. O motivo, talvez, ela soubesse. Não era nenhum segredo e não havia como questionar sua existência. Estava lá e era esperado. Não foi nenhuma surpresa. Mas ninguém está realmente preparado para a morte. Doeu – doeu da mesma forma que doeria se ela não soubesse antes. Sempre dói. E sempre vai doer. A dor não passa, como muitos costumam dizer por aí. A verdade é que ela nunca vai embora. Ela sabia disso. Queria que fosse mentira e queria muito que um dia aquela dor cessasse. Mas sabia que não iria acontecer. Com o tempo, ela iria aprender a conviver com aquela dor apertando o coração e iria acostumar-se com ela. Nada dura eternamente, afinal de contas. E, talvez, com um pouco de sorte, ela compreendesse que tudo isso tinha servido para alguma coisa e que nenhuma dor pode ser tão forte para sempre. Porém, quem sabe um dia ela levantasse seus olhos para o céu e eles não ardessem mais de lágrimas. Um novo dia, um novo ano. Um passo de cada vez. Ela abriu os olhos. Olhou para cima, para o céu. Fitou as nuvens e viu o sol. Não pode deixar de pensar que se existisse um depois-da-morte, ele se pareceria com aquilo. Com o céu de dezembro salpicado por nuvens de algodão. Tudo o que ela quer, agora, é estar em casa


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