Carta para um quase amor

Quando ele chegou, a primeira pessoa que ele olhou, foi ela. Foi uma troca de olhares demorada. Ele sorriu. Ela desviou o olhar e continuou a conversar com sua melhor amiga. Ela dançava. Ele observava. E então ele pegou seu violão e começou a cantar. A canção mais linda que ela já tinha ouvido. Embora ela já conhecesse a música, ela pareceu ainda mais bonita saindo dos lábios dele, tendo suas notas tocadas por ele. Outra troca de olhares, mais demorada do que a primeira. E então houve a troca de sorrisos. E o coração dela já estava parando de bater somente com aquele olhar. Ele segurou a mão dela. E ela se perguntou por que não tinha conhecido ele antes, antes de tudo. Na verdade, depois de conversarem, ela percebeu que tudo entre eles era baseado em desencontros. Ela conheceu todas aquelas pessoas um mês depois dele ter se mudado. “Quem me dera ter esperado”, foi o que ele disse. E então agora, quando ela finalmente o tinha encontrado, ele iria embora mais uma vez, naquela mesma semana, para mais longe. Mais longe dela. Ela tentou evitar que aquele pensamento tomasse conta dela naquela noite, mas ele estava ali, martelando, insistente e perigoso. Ele iria embora, ela sabia. E mesmo assim se apaixonou. Mesmo assim deixou que ele entrasse em seu coração, olhasse para ela e abrisse aquele sorriso devastador. Ela deixou que ele a beijasse. Estava chovendo. Ela se deu conta por um segundo que sempre desejou beijar um garoto sob a chuva. Um desejo infantil e bobo. Ela acabou sorrindo. Lá estava ele, mais uma vez, arrebatando o seu coração. Quando ele subiu a rua, olhou para trás. Ela acenou. Seu coração acelerou. Ela se perguntou mais uma vez se o veria novamente. Ele iria embora, ela sabia. E, no entanto, lá estava ela. Sofrendo por um garoto que acabara de conhecer e, inevitavelmente, se apaixonar. O tempo passou. Mensagens foram trocadas, declarações foram feitas por ele e, aos poucos, timidamente por ela. Ela sentiu medo. Medo de quebrar seu coração novamente e acabar quebrando o dele também. E mesmo que aquilo fosse tudo o que ela queria – o garoto perfeito, o príncipe encantado – ela sentiu o mais profundo medo que um dia já tinha sentido. Ele estava tão longe dela. Aos poucos, o contato entre eles foi ficando mais tênue, até que a vida dos dois ficou tão agitada que eles mal se falavam. Ela já sabia, é claro, e suspeitava que ele também soubesse. E embora ela tivesse pensado que, talvez, as coisas pudessem se ajeitar, esse foi, inevitavelmente, o fim.


Comments
2 Responses to “Carta para um quase amor”
  1. MAX says:

    Oi Amanda,

    Andou sumida, hem? Fico feliz que esteja de volta.

    Aliás excelente texto.

    Bjs.

  2. Unknown says:

    Andei sumida sim, problemas com administração do tempo! haha

    Muito obrigada, Max!

    Beijo :)

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