Resenha: Julieta, por Annie Fortier ♥

- Vós mesmo o disseste - reconheceu. - Um homem sabe. Um garoto não. (p. 87)

Depois de publicar trechos do livro incessantemente no Facebook e sofrer pateticamente com as reviravoltas inesperadas do livro, eis que estou aqui, fazendo uma resenha (e prometo que vai ser imparcial e super controlada).


Julieta é um pouco mais do livro light e mel-com-açúcar-e-melado que eu achava que iria ser. Pela sinopse, você descobre o básico: uma releitura do clássico de Shakespeare, Romeu e Julieta. Nada de muito emocionante podemos tirar dali. Achei, primeiramente, que fosse algo ao estilo Julieta Imortal, uma coisa mais fantasiosa e mais YA. Bom, eu estava enganada. Muito pelo contrário do que pensei, Julieta não é um YA. Nem de perto. Ele é um livro com uma personagem, Giullieta Tolomeia, mais madura, envolvida numa escrita do mesmo nível, sem vícios de linguagem ou frases de efeito clichês.

- Existe luxúria, como sabeis, e existe o amor. São coisas aparentadas, mas, ainda assim, muito diferentes. Comprazer-se com uma exige pouco mais do que uma fala melíflua e uma muda de roupa; para obter o outro, porém, o homem tem que abrir mão de sua costela. Em troca, sua mulher desfará o pecado de Eva e o reconduzirá ao Paraíso. (p. 87)

O livro gira em torno de, é claro, Giullieta e Romeo. No ambiente do livro, a lenda é que Romeu e Julieta existiram de fato e a história aconteceu em Siena, não Verona. Ainda batendo de frente com a tragédia shakesperiana, Anne Fortier descreve com detalhes a sua própria versão de Romeu e Julieta, atirando o leitor no meio de uma Siena em pleno século XIV, fazendo você realmente sentir-se lá. Desde então, houveram várias Julietas e vários Romeus, todas as suas novas encarnações sendo vítimas da maldição que condena o amor dos dois até que todos se arrependam do primeiro ato contra o amor do Romeu e da Julieta originais. É aí que voltamos ao século XXI, com a Julieta da vez vivendo nos EUA.

Julieta é o romance de Shakespeare da maneira que Dan Brown o contaria, mas sem a riqueza de detalhes históricos e factuais, assim como a tecnologia avançada utilizada em seus livros. Anne Fortier, ao invés de se fixar no amor trágico do casal secular que protagoniza mais uma vez uma maldição poderosa, volta-se também para os outros personagens interessantes que foram meio deixados de lado por Shakespeare. À sua maneira, Anne Fortier recria toda uma rede de intrigas familiares e trilhas que acabam levando a artefatos esquecidos, pertencentes aos Tolomei, Salimbeni ou Marescotti, o que gera uma série de conflitos e ressentimentos renascidos. 

- Ele entra e sai. Sempre tarde da noite... Vem para cá e fica sentado, olhando para ela. - Balançou a cabeça em direção ao depósito onde se achava o retrato de Giulietta e disse: - Acho que ainda é apaixonado por ela. É por isso que deixo a porta aberta. [...] Você existe! Por que ele não existiria? (p. 126)

A leitura de Julieta é viciante. Você nem precisa gostar de Shakespeare mas quem é que NÃO gosta de Shakespeare? para gostar de Julieta. Você simplesmente não consegue parar de ler até descobrir exatamente quem é quem e o que vai acontecer com cada personagem dessa vez. Quem é o mocinho, quem é o vilão... Mesmo para quem já conhece a história e vamos lá novamente: quem é que NÃO conhece Romeu e Julieta?, fica difícil distinguir as personagens em pleno século XXI. De qualquer maneira, lá estamos nós, devorando página após página até o final. Ajuda muito o fato da autora ter uma escrita fluída, bem detalhada e muito visual. A sensação é de se estar em Siena, passando férias com Romeu e Julieta, participando de todas as intrigas e situações emocionantes na qual todos eles se colocam. Apesar de algumas vezes a leitura ser detalhada em demasia, é superável. Leitura obrigatória para amantes de Romeu e Julieta! Mesmo que eu prefira Hamlet.

- Porque você acabou de descobrir quem é - retrucou Alessandro sem rodeios. - E tudo finalmente começar a fazer sentido. Tudo o que você fez, tudo o que optou por não fazer... agora você entende. É o que as pessoas chamam de destino. (p.208)

O enredo todo é muito rápido e agradável. É um livro longo, mas esse fato passa despercebido pela quantidade de informações e acontecimentos no decorrer da trama muito bem desenvolvida. Não é um livro chato ou massante, muito pelo contrário. Há ação, aventura e até mesmo gente morrendo. Muita emoção. Julieta acabou sendo não apenas mais uma releitura de Romeu e Julieta, mas se tornou a melhor que já li em tempos mesmo que eu prefira Hamlet, mas NINGUÉM faz releitura de Hamlet ): e super recomendo para quem está afim de uma leitura mais leve, sem muito comprometimento, mas ainda assim bacana. Muito bom!

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